Brasil se prepara para expansão nuclear

02/10/2009

O atual governo já sinalizou que vê a energia nuclear como uma boa opção para diversificar o parque gerador brasileiro. Prova disso foi a retomada do Programa Nuclear Brasileiro, que tirou Angra 3 (1.350MW) da hibernação e incluiu no planejamento do setor a construção de oito usinas de mil MW cada até 2034, sendo quatro no Nordeste e quatro no Sudeste. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, chegou ainda a anunciar um audacioso – porém inexplicado – plano de expansão que incluía a construção de 50 usinas nucleares nas próximas cinco décadas.

Independente da quantidade de empreendimentos, o Brasil terá de superar dois obstáculos para efetivar sua estratégia: a formação dos especialistas e a produção em larga escala do combustível nuclear.

A Indústrias Nucleares do Brasil (INB), que atua na produção do urânio enriquecido que serve de combustível para as usinas – e hoje atende parte da demanda de Angra 1 e Angra 2 – garante estar preparada para a expansão da fonte no País. “A INB já produz urânio enriquecido”, afirmou o diretor técnico de enriquecimento da estatal, Mário Botelho, à reportagem do Jornal da Energia. Hoje, a produção diária do combustível é de dois quilos – o que ainda não atende às necessidades de Angra 1 e 2.

O processo do insumo, que é a etapa mais sensível do ciclo do combustível nuclear, começou a ser feito em escala industrial no final de abril deste ano. “As máquinas ultracentrífugas utilizadas no processo estão sendo instaladas na Fábrica de Combustível Nuclear (FCN) da INB, em Resende (RJ), onde já existem dois conjuntos de máquinas em operação e outras em instalação”, explicou Botelho.

O presidente da INB, Alfredo Tranjan Filho, diz que o momento agora é de aumentar a produção. “A expectativa é de que em 2014 sejamos autosuficientes na área”, prevê o executivo, que garante que a empresa está preparada para acompanhar a demanda nacional.

A INB espera chegar em 2017 com uma produção maior que a necessidade brasileira. Como a planta a ser inaugurada depois de Angra 3 (prevista para 2015) deve ser entregue somente em 2019, o País poderá criar uma reserva de urânio. “Essa reserva poderá funcionar como estoque estratégico”, diz. Tranjan também deixa em aberto a possibilidade de o Brasil se tornar até mesmo um exportador do combustível.

Formação especializada

A base de especialistas nucleares que atuam no Brasil foi formada pela iniciativa setentista do “Projeto Urânio”. O ex-presidente da Eletronuclear e pesquisador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Zieli Dutra, afirma que o sucesso do plano de expansão nuclear passa pela formação de uma nova mão-de-obra.

Segundo ele, este processo não se resume ao ingresso em um curso especializado da área. Dutra afirma que “é extretamente importante deixar os jovens conviverem com os especialistas mais experientes e garantir a eles emprego, assim que deixarem a universidade”.

Atualmente, as Universidades Federais de Minas Gerais, Pernambuco e do Rio Janeiro, além da Universidade de São Paulo, oferecem cursos de pós-graduação na área nuclear. A UFRJ também planeja criar um curso de gradução voltado para a matéria. (Veja lista com outros cursos no fim da reportagem).

Zieli Dutra conta que alguns países do mundo já enfretam problemas com a falta de mão-de-obra especializada, que está envelhecendo e se aposentando. “O Brasil ainda não está neste limiar, mas por outro lado ele tem que estar atento para que estas pessoas (especialistas experientes) não sejam estimuladas a irem embora para casa”, disse.

Outra preocupação do professor com relação a formação dos novos engenheiros diz respeito a concentração da mão-de-obra no Sudeste. “Não adianta ter um especialista no Nordeste e 20 no Rio de Janeiro”, opinou. Veja abaixo alguns cursos da área nuclear:
Pesquisa por Leandro Tavares Engenharia Nuclear

Escola Politécnica Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Pós-Graduação
Local: Centro de Tecnologia/UFRJ
Telefone: (21) 2562-8411
ademir@con.ufrj.br
www.coppe.ufrj.br
A UFRJ abrirá, ano que vem, o curso de graduação em Engenharia Nuclear. Serão oferecidas 20 vagas diretas no vestibular 2010 e 30 vagas indiretas para alunos que cursam o ciclo básico de Engenharia na própria universidade.
 
Tecnologia Nuclear
Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN)
Pós-Graduação
Local: Universidade de São Paulo
dpde@ipen.br
www.ipen.br
O curso abrange três áreas de concentração: a tecnologia nuclear em aplicações, materiais e reatores. Na área de aplicações são oferecidas as disciplinas Cíclotrons e sistemas de irradiação utilizados na produção de radioisótopos; Fundamentos da tecnologia nuclear: física nuclear e aplicações; Inovação tecnológica e habitats de inovação; Técnicas nucleares aplicadas à investigação microscópica de materiais; Tópicos especiais de dosimetria das radiações; proteção radiológica; Gestão de rejeitos radioativos na indústria, medicina e pesquisa e Gestão da propriedade intelectual aplicada à produção do conhecimento, inovação tecnológica, pesquisa e desenvolvimento. Tecnologias Energéticas e Nucleares
Universidade Federal de Pernambuco
Pós-Graduação
Local: Universidade Federal de Pernambuco
Telefone: (81) 2126-7971
amnetto@upe.br
www.proten.ufpe.br
O curso oferece as seguintes matérias: Análise de reatores; Caracterização de sistema poliméricos; Ciclo de combustível nuclear; Degradação e estabilização de polímeros; Dosimetria clínica e interna; Engenharia Solar avançada; Escoamento bifásico, Estatística experimental; Estudos avançados; Física Nuclear e Radiológica; Fontes não convencionais de energia; Fundamentos metodológicos da pesquisa cientifica; Instrumentação nuclear; Ótica Solar; Princípios de Engenharia Solar; Proteção radiológica; Tópicos especiais em instrumentação nuclear, entre outros.
 
Engenharia Nuclear
Instituto Militar de Engenharia (IME)
Pós-Graduação
Local: IME/RJ
Telefone: (21) 2546-7074
chefiase7@ime.eb.br
www.ime.eb.br
O curso é composto a partir de duas linhas de pesquisa, Controle Ambiental e Reatores Nucleares. As atividades de ensino e pesquisa em reatores nucleares estão vinculadas à Física de reatores; Engenharia de reatores e à Física nuclear aplicada, entre outras.